Parece algo instintivo: basta colocar o bebê no peito para que ele comece a mamar. Desta forma, soa romantizado o ato natural de oferece a primeira alimentação do ser humano. E é essa impressão que temos ao ver as mamães nas propagandas, nas revistas ou nas redes sociais. Mas não é tão resumido assim. Acrescenta-se nessa descrição o exercício constante de paciência e persistência, a adaptação para funcionar a amamentação, a dedicação de horas sem dormir e, até mesmo, quando não acontece.
É isso que nos ensina Ana Carolina de Faria Frota, a primeira mamãe convidada para participar do nosso especial sobre o Agosto Dourado, a campanha mensal que visa a intensificação das ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.
Ana Carolina tem 28 anos. É mãe do pequeno Sereno Frota, que tem apenas 26 dias de vida – 26 dias intensos de amamentação, sensações e descobertas, tanto para quem gerou quanto ao filho. “Tem dias que ele mama muito pouco. Outros dias, que ele passa quase o dia todo no peito. Eu já fiquei de duas da tarde até uma da manhã com ele mamando. Isso se chama salto de crescimento”, ensina a mamãe e desmistifica mais uma informação sobre o ato.
Saltos de crescimento são o período em que os bebês sentem uma necessidade maior de mamar, de mais alimento e nutrientes, pois é exatamente a época em que crescem e engordam mais.
Ana Carolina alerta sobre a importância de não ter pressa nessas horas. “A amamentação é o primeiro desafio da criança. E o bebê fica irritado quando não consegue. Por isso, é muito importante a gente ter paciência e insistir”.
Em 2018, um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 38% dos bebês são alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses na região das Américas e só 32% continuam amamentando até os 24 meses. Ainda falta muito para alcançar a meta de 50% de amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida até 2025.
A mamãe aponta um dos vilões que parecem facilitar o processo de alimentação da criança. “Dar a mamadeira e a fórmula artificial: é quase que um caminho sem volta para o desmame precoce, pois o bebê acha melhor mamar no bico da mamadeira”. Para melhorar o processo, existem técnicas para estimular. “A boca do bebê precisa estar bem no peito, não pode pegar só um pedaço dele. Tem que estar barriga com barriga, ficar reto para facilitar. E muitas vezes quando ele não está confortável, ele mesmo larga o peito.”
Cuidados com alimentação
Não existe comprovação que determinada comida ou bebida aumente ou reduza a produção de leite materno. O que vai determinar a produção de leite é a quantidade de vezes que o bebê mama no peito ou quanto mais a mãe esvazia suas mamas. Ou seja, como diria Ana Carolina: “peito não é estoque, é fábrica!”.
Ela mesmo teve seus cuidados na amamentação durante a gestação. “Eu suspendi o leite de vaca, pois é muito ruim para dar cólicas. Como o sistema digestivo do neném não está maduro, eu parei de tomar leite e derivados. Depois, muito líquido e muita fibra.”
E amamentação em público?
Recentemente, a amamentação em público provocou debates em muitos lugares. Mesmo agindo de forma natural, diversas mães já foram constrangidas ou coagidas pelo fato de colocarem seus seios a fim de alimentar os seus bebês.
“Já amamentei em público, mas dentro do sling (porta-bebês pendurado nos ombros do adulto)”, relata Ana Carolina. “Hoje eu cogitei em levá-lo pra reunião de trabalho, e pensei: ‘e se eu precisar amamentar na frente do meu cliente?’ Mas com minha família, os meus amigos, eu amamento na frente de todo mundo.”.
A OMS incentiva a sociedade civil a apoiar as lactantes para que possam amamentar em qualquer hora e qualquer local, além de tornar as comunidades mais acolhedoras com relação ao ato. Até mesmo o Senado Federal aprovou esse ano um projeto para multar a violação do direito ao aleitamento – a PLS 514/2015 assegura esse direito às mães em local público ou privado, sem sofrer qualquer impedimento.
“Durante a gravidez, eu repensei em mim, a forma como eu via meu corpo de uma maneira menos sexualizada. Meu corpo era a casa de uma pessoa, e meu seio agora alimenta o meu filho. Eu nunca pensei em como as pessoas ficam incomodadas, mas, sim, em como eu me importo em relação a isso”.