Entre uma pergunta e outra, Alliyah Rafaele Penha Ferreira se mantém curiosa ao ver o gravador para registrar a entrevista. Com um ano ainda incompleto, a pequena captura a atenção da nossa equipe e, em especial, da sua mamãe.

Delana de Paula dos Santos Penha demonstra segurança muito própria de quem adquiriu experiência sobre o assunto do aleitamento materno. E é taxativa: “Amamentação não é algo natural ou instintivo, não tem nada nisso! A gente tem que ter prática e jeito para segurar”.

Ela relata que procurou orientação profissional para poder auxiliar na alimentação da sua bebê. “Nos primeiros dez dias ela não sugava. Eu tirava o leite com uma bomba ou dava na seringa. Eu fui no Banco de Leite do Materno [Infantil] buscar ajuda e consegui pegar o jeito”. A importância do Banco de Leite Humano (BLH) é essencial para acolher as mães com dificuldades durante a amamentação, bem como contribuir para uma prática de solidariedade e amor: a doação de leite materno.

Delana comenta que foi doadora da Unidade Materno Infantil, contribuindo para aumentar o estoque do banco de leite: “Minha produção sempre foi muito boa. Eu doei do segundo mês até o sexto para a [Maternidade] Marly Sarney. Só parei porque a bebê começou a mamar muito”.

Com um déficit mensal de quase 30%, o Hospital Materno Infantil busca pelo incremento em seu estoque destinado às crianças internadas no Serviço de Neonatologia. O ideal 150 litros de leite por mês para às demandas e casos emergenciais, além de uma distribuição para as outras unidades, mas suas doações são sempre abaixo da média para atender os recém-nascidos internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais e unidades intermediárias.

Alimentação

Sobre o que colocar no cardápio da família, Delana se mostra bem flexível: “Com seis meses eu comecei a introdução alimentar dela.  Agora, com um ano, eu comecei a pensar em tirar o peito, porque é muito cansativo. Ela dorme comigo e ainda mama a noite inteira. Mas vou manter a recomendação da OMS [Organização Mundial da Saúde] até os dois anos”.

E sobre os seus hábitos alimentares? “Comi muito durante a gestação, mas evitei fast food e passei a comer melhor. A nutricionista me disse que eu poderia comer qualquer coisa, desde que fosse saudável”.

A pressão x o apoio

Delana toca em um ponto ainda pouco discutido na temática da maternidade: a pressão das pessoas sobre determinadas práticas entre mãe e filhos. “A sociedade te cobra muito e é uma a sensação de incompetência danada! E por conta da imposição da sociedade, a gente fica querendo atingir uma meta que nunca existe”.

Antecipando a questão da amamentação em público, a própria Alliyah é quem “responde”, ao se pendurar nos seios da mãe, em busca de leite. “Ela faz isso em qualquer lugar!”, responde Delana. E se já sofreu algum tipo de repressão por isso, a mãe responde: “Nunca passei por isso, eu tento me cobrir e deixo ela mamar. Mas o peito é muito mais que o alimento da minha filha, é carinho, é o conforto, é o aconchego dela. Antes eu tinha muito receio, mas isso mudou quando eu fui no Banco de Leite e vi todas as mães dando de mamar”.

Por fim, a mamãe reforça a importância do apoio familiar, do marido e dos amigos nessa fase de transformações da vida. “Amamentar é uma coisa que só eu posso fazer. Mas outra questão o pai tem papel fundamental nisso. Até mesmo que a gente consiga se alimentar nos intervalos. É muito difícil uma mãe passar por todo esse processo sem um suporte”.

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